2006-10-27

Sala de espera

Sala de espera do posto médico, de um posto médico. Está quase vazia, apenas eu e mais duas pessoas, duas senhoras que conversam, de doenças, dos filhos, dos divórcios dos filhos, dos netos, da vida difícil que está destinada aos novos, sim porque para elas o que têm basta e a morte não está longe.
A filha divorciou-se, ela que estava tão bem, só porque o marido bebia um copinho de vinho. Tinha uma vida de rainha, levantava-se tarde e ia para o café o dia todo, “E não faltava nada naquela casa, levava-me a passear e ficávamos em hotéis caros e comíamos em restaurantes finos, nunca teve problemas de dinheiro…Foi uma pena…A separação…Os meus queridos netos.”. Agora vive mal, teve gémeos da segunda relação e o dinheiro anda contado, “Se a sua filha se divorciou lá tinha as suas razões. Não há mulher nenhuma que tome essa decisão sem ter razões fortes…Só quem lá está é que sabe o que se passa.”. Esta sentença, proferida pela outra mulher, deixou um silêncio com significado.
Entretanto chega mais gente, fala-se de cães, de doenças de cães, de hospitais para cães, de médicos para cães…”O meu até chora! É como um filho. Quando ele desaparecer nem sei como será.”.
Dos cães para as vizinhas, para as traições das ditas, para as relações atribuladas entre mulheres desocupadas, “Deus é que sabe e nunca dorme.”.
Eu também não durmo, estou sentado à espera, preciso de uma credencial. Sinto o tempo a passar mesmo sem ter relógio, não preciso dele para o sentir, ao tempo. Pelo estômago sei da hora de almoço. A conversa decorre agora no guichet. Sabes o que aconteceu à Laurinha? Partiu uma perna! Com aquela idade é um problema. Se é!
Lá fora, o céu ferido no seu plástico cinzento, deixa escorrer insolente as águas certas de Outono. Há seis anos atrás também choveu assim.
Ouço o meu nome, é a minha vez? Sim pode entrar!

2006-10-22

Apenas porque sou teimoso...E porque não arrogante?

Máquina profeta, Messias mecânico, o encanto das peças em movimento.
Gira, gira, roda, roda.
O engenho que se revira em voltas elevatórias revela automatismos.
Robóticos gestos cima, baixo, cima, baixo, esquerda, direita, esquerda direita.
Hipnóticas mãos, malabarista eléctrico, dos electrões que lhe servem de corrente.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz…………….

O cartão permite o acesso, concreto, directo.
De dentro, no seu núcleo o cartão é inútil.
O electrónico que decida da minha entrada, se eu pertenço ou não.
Lá dentro sou eu e a máquina…Ela que gira, ela que roda, para cima, para baixo, esquerda, direita.
A reacção, a fusão das moléculas, os gráficos, os números que nos obrigam a pensar,
Que nunca são claros até os sentirmos por instinto…Cento e cinquenta! Dentro!...Cento e cinquenta e um! Fora! Assim num repente…Toma e já está!

Na região periférica não conhecemos, não nos conhecemos…
Quem sou eu?...Quem és tu?....
Estatística humanóide, estereotipo orgânico, célula dispersa?...
Ramificação errante qual o teu delírio?
No húmus, no estrume, procuro a verdade.
Sou tenso no músculos, mergulho na merda.
Se matei alguém?...Não sei!

Sim , eu sei a tecla do mistério,
Desdobramentos, dezassete polegadas…Ou serão mais?
Cavalgo sem me verem,
Sou sem ser,
A electrónica do meu dedo dispara setas mortíferas.
Eu mato no ecrã!
Se não gosto, odeio….Mas não digo a ninguém….

Já me viram delirar?

Aqui estou eu! Eis a minha carta, a minha mensagem, a minha angústia via mail…
Finge que não me abriste…Não me leste…eu finjo que gostas…e choro….

2006-10-20

Hoje um poema


É chegada a vez de um poema, desacerto, lamento, confissão, vulgar desabafo, encontro no espaço…se ainda estiver livre…
A alma rende-se de novo ao improviso, à divagação. O ser narrativo que sou perde-se no deserto metafórico. Onde está o significado da palavra? Da palavra que me sai, balbucio, resmungo, assobio, grito, degluto…Todo eu sou ouvidos para essas palavras escritas em papel digital, virtual, como nos sonhos.
Todo eu tenso, músculos, cérebro, concentração na leitura, na viagem, nas descrições.
Que dizer dos adjectivos com que vestiram os substantivos?
Os substantivos que sou eu e tu…E todas as coisas…E tantas são elas!
Hoje um poema, daqueles que não rimam, que não concordam no tom, que desafinam no som.
Hoje aquelas palavras que me fazem sentir importante, que me fazem sofrer.
Diz-se da poesia o mesmo que se diz de Deus…Está em toda a parte, é omnipresente. Alguém mal disposto chamar-lhe-ia “Melga!”.
Quem a lê, lê quando lhe apetece, quem a faz segue outros procedimentos. A poesia é feita por loucos, mistura de sons e conceitos.
Chegou a vez de um poema…Eu acredito que sim. Um que conte o infortúnio lusitano, que nos prometa o futuro, nem que seja em castelhano…
…Existem sondagens…
Poderia ser um poema rebelde, sem origem nem destino, Easy Rider…
Letras formando palavras, correndo livres, montadas numa caneta transformada.
Alterei-lhe a capacidade do deposito de tinta, modifiquei-lhe o aparo de modo a diminuir o atrito, prolonguei-lhe o tamanho e dei-lhe cores matizadas, metalizadas, modernas…Isso existe?...Sei lá!
Tenho tudo o que preciso, sou louco, não controlo o que escrevo e deixo-me levar pela mão.

O poema acabou…Acabei de o escrever…O lamento, a confissão, tudo foi dito.
Hoje foi assim!
Amanhã?...


P.S. Um bom fim de semana, um texto e um céu alentejano.

(foto: no quintal...)

2006-10-19

SE SAIR PARA A RUA NÃO BEBA!

José, Maria e Joel vivem num apartamento no centro da cidade. Hoje, ao final do dia e depois do jantar, cada um ocupa o tempo a seu belo prazer. José é casado com Maria e tem cinquenta e quatro anos. Maria tem cinquenta e é mãe de Joel que tem vinte e quatro e ainda vive com os pais. São vinte e duas horas, dez da noite, Maria está sentada no sofá e vê televisão. Tomou dois calmantes, vício que mantém desde que lhe morreu o pai, as pálpebras tombam-lhe reduzindo-lhe a visão. José ficou na cozinha lendo o jornal e bebendo um digestivo. A refeição levou-o a beber uma garrafa de vinho, porque foi ele que a preparou, porque estava mesmo muito boa e porque lhe apeteceu. Aprendeu a receita com a mulher e é das que lhe sai melhor.
Joel hoje não sai. Acabou o curso há um ano e está desempregado. Tem poucos vícios, um deles é o haxe. No quarto, de janela aberta, fuma “um” enquanto o som da aparelhagem passa Red Hot, um dos primeiros álbuns…E porque não o nome da música…”True Men Don’t Kill Coyotes”.
José fecha o jornal e decide ir até à sala. Senta-se ao pé da mulher, rotina que nunca abandonou. Na televisão uma telenovela de um qualquer canal, um homem dirige-se a um pequeno bar de sala e enche um copo com uma substância ambígua cor de tisana. A personagem masculina fala com uma mulher que decide também encher um copo. Ambos bebem da idêntica mistela. José pensa! Estão sempre a beber…Tanto que eles bebem…E dá-lhe sede…Levanta-se e vai encher um copo…Pelo menos isto eu sei o que é. Noutra sala, noutra cena, vários personagens numa festa, bebem! Raio de telenovela…
Maria está quase a dormir mas permanece atenta ao som, às vozes que saem da televisão, às vidas fingidas que lhe trazem as emoções que a sua não tem. Percebe a angustia da separação que decorre no ecrã e torce por ela, pela liberdade que ela está prestes a adquirir. Apercebe-se da tensão dramática quase sem ver.
Joel acabou de fumar e continua a ouvir música, Primus, “Frizzle Fry”. Está sentado defronte a uma consola de jogos e manobra uma personagem especialmente agressiva, mistura em partes iguais de detective e carrasco. O jogo corre-lhe bem e o animal percorre as salas de um prédio abatendo tudo o que lhe aparece à frente, sai por uma vitrina fazendo voar mil estilhaços e entra num carro fugindo a alta velocidade.
Após quatro digestivos José sente-se confortável e olha para Maria que está de olhos fechados, percebe pela respiração que ela ainda não está a dormir.
O assassino continua a matar no vídeo game.
A nova lei impede a circulação na via pública aos indivíduos que tenham consumido substâncias susceptíveis de provocar alterações do comportamento.
Ainda pensou em comprar uma pequena quinta no campo…Mas não tinha dinheiro e ainda lhe faltam muitos anos de trabalho.
A explosão é repentina, ficou-se mais tarde a saber que foi provocada por uma fuga de gás. Apenas o Joel sobreviveu. O seguro recusou-se a pagar devido a uma cláusula que impedia o consumo de substâncias capazes de provocar incapacidade de manutenção do bem segurado….Na carta de resposta vinha a lista dessas substâncias…


P.S. É tão fácil perder direitos numa democracia…Basta que os argumentos venham revestidos das melhores intenções…Com os melhores pretextos vamos cedendo…estamos numa de aborto…E do preço da electricidade…E…Um abraço…

2006-10-15

Fátima... E as pessoas


Não foi a fé que me moveu mas sim a amizade. A amizade por alguém que nos acompanhou a Cuba com uma gravidez de sete meses. Correu tubo bem e eu desconheci a promessa até que há dois meses me foi revelada. "Paulo! A Lénia prometeu, mas queria que fossemos todos.", todos significava os que tinham estado em Cuba, em Outubro do ano passado...Entre furacões.
Eramos sete...Fomos oito...Entretanto a Rita nasceu. Óptimo fim de semana, entre peregrinos e pessoal em descanso. Revi Fátima, Batalha, Alcobaça, Nazaré e Caldas da Rainha, pelo meio ficaram um sem número de pequenas terras que o nosso povo teima em habitar.
Tirei algumas fotos e reparei que em Fátima só as pessoas tinham sido o alvo da minha objectiva. A esses modelos anónimos e involuntários eu agradeço e peço desculpa pela ousadia.


A todos voçês uma boa semana...E o meu olhar sobre as pessoas, em Fátima.

P.S. A última fotografia está cá porque eu não resisti...

2006-10-12

O Castelo


Estranha pedra preciosa,
Nasces para brilhar,
A sede fez-te vir para lugares escuros,
Lugares onde a luz é regateada,
Vendida no mercado negro das trevas

Vésperas de sábado. O dia promete ser brando, não mostra o sol mas não esconde a luz. Nas ruas o movimento é calmo, fluxo preguiçoso e disperso.
Aproxima-se da janela, deixa-se estar, protegido pelas cortinas que permitem a passagem difusa da rotina lá fora. Ao de leve, com dois dedos, afasta-a o suficiente para mostrar um dos olhos, o esquerdo. É essa visão nítida que o convida a sair. Convencido o espírito o corpo obedece, lava-se, alimenta-se, apruma-se e sai. Leva consigo o espírito que decidiu.

O terreno está livre.
Espera pelo ardor da batalha.
Não se vêem exércitos…
Apenas o silêncio.

O Outono deixou a sua marca, a brisa marítima que atravessa a planície e chega à serra vem saturada, água que se prende ao rosto, à roupa, mas que a temperatura não deixa ser desagradável. Caminha pelo empedrado que preenche a parte velha da cidade. Sobe a rua do Algarve, atravessa o Largo Alexandre Herculano e vira à esquerda pela estrada que circunda o castelo num trajecto de três quartos de lua…Três quartos de paisagem que quase chegam a Tróia…

No castelo moram os meus familiares.
Mortos de outras batalhas,
Feridos de outras guerras.
Jazem, juntos, aos pares.

Vai parando entre campas, entre muros, entre saudades eternas. No recatado sossego destas pedras centenárias apenas aquela mulher de preto desconvoca o silêncio, agrada-lhe ouvir-se gemer. Já a conhece, trocam olhares cúmplices de desgosto, hoje não haverá conversa. Junto à lápide conversa com a mãe, conta-lhe da semana e da nova namorada que ela havia de gostar de conhecer. Dá um beijo ao pai e outro ao irmão mais velho. Do que foi a tragédia lembra o acaso que o deixou vivo. Uma lágrima para a tristeza, outra para a saudade e outra pela felicidade de ter sobrevivido.

Caminho ao largo,
e o som vem dos bosques,
e a erva grisalha do Verão,
manchada de sangue amargo,
relembra-me as vozes na rádio,
a notícia fresca de morte,
algo que não pode ser pago.

Que belo dia…Feriado…Vou telefonar à minha Joana!


P.S. A história não é verdadeira, mas o castelo é…E tem lá dentro o cemitério com as gentes da terra. (Santiago do Cacém)

2006-10-07

Romançe Poético

Primeiro o Espaço

Do tamanho das estações a chuva chega,
Amarela-se o ar que nos envolve.
Ocre melancolia.

Na manhã que não dormia tudo é húmido.
A cidade transpira,
Condensa nos seus poros as vidas que nela respiram.

Ruas atrás de ruas.
No meio das rectas os pontos de referência,
As margens dos caminhos,
As direcções memorizadas.

O largo abre-se em recantos familiares.
No café a manhã é deserta,
Como quem faz o pequeno-almoço a um filho.
Ontem o filho não dormiu em casa.
O pai que o espera não é seu pai…
E não sabem…A mãe sabe mas não diz.



Depois as pessoas

As cãs marcam-lhe a idade.
O corpo que foi ágil desiste nos embates confortáveis.
A mulher não é a mesma,
Nunca foi a mesma.
Já não o procura,
Mas também não procura os outros…
…Os cheiros que ela trazia…

Tudo por amor,
Um destino sem dor,
Pelo calor nos lençóis…
…Não dorme sozinho…

Feita de traços perfeitos,
Legou-os no ventre ao seu filho.
Mãe adolescente, mãe carente,
Mãe de sonhos desfeitos.

Filho de mãe conhecida,
Conheceu no pai aquele homem.
Ó mãe porquê?...Tantos homens…
Ó pai porquê?...Tu és mãe…



Interlúdio sentimental

Aquele que lhe chamava pai já não existe.
Rendeu-se à distância, à vergonha.
Sim…Sou eu o pai,
Mas ele não quer que se saiba.



Por fim os factos

O assalto correu mal.
Duas balas prostraram-no no chão.
A ambulância demorou uma hora,
O médico legista, três.

O telefone tocava,
Os sedantes, amorteciam.
A voz do outro lado espera.
A mulher dormente não ouve.

Foi o homem que saiu a correr…
…Veio da cozinha…
Foi o homem que levantou o auscultador…
…Tremendo-lhe o gesto…
Foi ele que primeiro chorou,
Para dentro,
De dentro,
Sem sair.

Saíram atrasando os movimentos,
Num vagar de quem não quer…chegar…
Não havia urgência,
Nem urgência teria de haver.
Quem vai identificar um corpo,
Tão depressa não vai esquecer.

Na corrente sanguínea,
Morre o sedativo,
E a mulher que não sentia, sentiu,
E sofreu,
Pelo filho a quem escondeu…O pai!



Conclusão

Foi a morte,
O desgosto,
A sorte,
O destino,
A sensação de solidão,
O acaso genético,
O impulso eléctrico
O dedo feminino de Deus,
O que a fez finalmente,
Amar aquele homem?
Homem que sem ser pai se fez Pai,
De um filho que fez Filho,
E que chorou como se fosse dele.



P.S. Um Poema urbano...De amor! Bom fim de semana e até daqui a uma pausa...

2006-10-05

Anónimo

(sem nome)

Se atado a uma cadeira,
Alucinando num quarto
Me alugo e me vendo,
A culpa de que me acuse,
A qual sempre julguei minha
Não é mais do que a ressaca,
A secura da manhã
O mau estar constante de quem nunca descansa….

Se amordaçado a um qualquer deus
Nunca me ouviste gritar,
Se vendido te denuncio,
É do pesadelo que falo,
Do inferno e do fogo.

Se privado da palavra
Me fechei em grades,
Se danado com falsas verdades
Matei e não chorei,
Então tudo valeu a pena….

2006-10-01

Noites


Leves os rosas nas maçãs do rosto, o adivinhar do sangue por debaixo da pele branca, o toque trémulo dos dedos sentindo o relevo. Os efeitos da luz matinal projectam-se na parede desafiando as cortinas, brincando com elas…Os corpos ainda se encontram juntos, membros baralhados, dispersos nas sombras. Dormem, adivinha-se o respirar, breves sopros de vida…

Conheceram-se ontem. Souberam o nome para se poderem chamar, confirmaram as músicas que estavam a ouvir e falaram. Confessaram tudo o que o álcool quis e dançaram. Nunca a pista e a multidão os conseguiu separar. Agarrando-se com os olhos largaram-se na frenética corrente misturando suores e contactos.

Ela foi com três amigas. Não levou carro. Tinham jantado num restaurante Italiano, daqueles com bandeiras e alusões despropositadas. Beberam vinho tinto e disseram mal de toda a gente…Bem, não disseram só mal, também fizeram alguns julgamentos. Ela não leva aquela regateirice muito a sério, é só para descomprimir. Ainda foram a um bar, foi ai que se libertou…

Todas as semanas espera por estes dois dias, melhor dizendo, duas noites. São cinco dias a trabalhar e dois para rebentar. Já não é muito novo, por isso adquiriu algumas rotinas de conservação. Só o Daniel sabe desse facto, amigo desde sempre para ele não há segredos. Vai com quem calha, já não são muitos os resistentes….Nem sempre leva carro. Hoje levou, arranjaram-lhe algo branco não precisa beber…Talvez…

De manhã nenhuma memória que leve ao afecto os mantém abraçados, apenas o acaso dos corpos procurando conforto, calor. Nenhum sinal de preservativo, confiança total no acaso.

É ela quem acorda primeiro, estranha o contacto, estranha a boca seca, a garganta colada, mas não se mexe. O corpo cansado recusa movimentos, o relaxamento é total, menos a cabeça. Espera um bocado, não sabe quanto, até a bexiga a obrigar a levantar-se. Não está em casa…É a casa da Luísa. Onde estará a Luísa? Tropeça nas roupas espalhadas pelo chão, entra na casa de banho, senta-se na sanita e fecha os olhos…Sente-se adormecer.

Ele também já está acordado e olha aliviado para um soutien. Leva a mão ao sexo fazendo-a descer lentamente até aos testículos, acto reflexo, como se o mundo todo estivesse ali e agarrá-lo o segurasse eternamente…”Esqueci-me!”


Nunca se tinha preocupado com questões de segurança até ao dia em que acordou com um homem. Desde então, em dias de maior desatino, a primeira coisa que faz ao acordar é confirmar a companhia. Começou a usar preservativo para proteger as amantes. Em relação a ele preferiu não saber, cruz que carrega com dificuldade. Faltou-lhe a coragem para ir fazer o teste, chegou a estar à porta do Hospital mas não entrou.

Ela nunca percebeu porque fugiu aquele homem. Saiu da casa de banho ainda a tempo de ver a porta fechar-se…Não teve reacção…”Será que não aprendo…”.
À noite telefonou à mãe. Não lhe contou nada sobre o assunto mas foi como se tivesse sido purificada…Efeito materno da origem.
Foi deitar-se mais descansada prometendo a si própria que iria ao médico.


P.S. A hora tardia faz-me mal e leva-me por essas noites…