2014-04-21

Abril #5 PRIMAVERA DE 2014 Sonetos de sangue, suor e lágrimas (mesmo que só a alma escorra estes fluídos)

I

Lágrimas suaves na chuva de abril
Nos rostos cinzentos o céu cinzento
Esperança lavrada no meu lamento
No mês dos cravos, das chuvas mil

O choro contido de Pátria ferida
Quarenta anos que cheiram a geração
Um povo perdido na fome e no perdão
Cantando entre dentes o resto da vida

De leve, o leve sabor das mensagens
Alguém que nos sabe e nos leva ao céu
Com o pouco que temos de outras paragens

O vermelho dos cravos que alguém nos deu
Dos capitães negados em listagens
Porque o rubor dos cravos faleceu


II

Não faz mal se gritei que não quero
Não faz mal se fugi arrependido,
Não faz mal se o que quis está perdido
Não faz mal se me encovei com esmero

Não faz mal o ensejo esbanjado
Não faz mal a babugem na boca
Não faz mal um povo na toca
Não faz mal o contracto quebrado

Mal faz, a cegueira consentida
Não ver, nem compor o erro
Não desejar outra saída

Mal faz, encarnar o desterro
Falar a verdade desmentida
Aprovar e consentir o enterro


III

Que de morta seja a linguagem
Eterna e anafada desventura
Maleita, porque perdura
Em quarto de enfermagem

Palavra torta e sem cor
Da morte só o que restar
Não preciso celebrar
Se não quero lembrar a dor

Que não me reste só este dia
Porque a contenda sucede
Mesmo sem a minha revelia

De cada dia o que procede
Na vergonha e na porfiria
A força de quem não cede

Paulo Guerreiro 2014/04/21

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